Aprendi tudo desde a tua
morte. Passei
de pedra a madeira
e de madeira
a vidro. Frágil e superlativo como
o corpo que sou a viver dentro
de uma rodilha de suspiro.
O cancro não se come. Ainda não
há garfo e faca para o bicho. Ainda tentei
sentir as metástases no céu
da boca. Procuro entre mim
o aço,
encontro-lhe o superlativo no amor
à perda.
Odiar-me-ás quando te confessar
que guardo o teu cancro
na têmpora esquerda. Na direita,
a arma que o matará quando
ele acordar outra vez. Rede
entre o cancro e a sua morte,
o meu escandaloso e
tenebroso
cérebro.
Perdi tudo desde a tua, desde a tua,
a tua, sim, a tua
morte. Ouço-me em dificílimos decibéis
de dor guinchados em palpitações
anónimas (não são
nada anónimas pois estão) com o teu
nome esventrado.
Se as minhas pulsações és tu, também
eu morri de cancro
há tempos. Adeus às coisas aí, esta
é,
indubitavelmente, a obra-prima
do brilho que a paixão tem
no escuro.
Brilha que interrompe.
******
pedro s. martins
2 comentários:
a obra-prima
do brilho que a paixão tem
no escuro.
uffff y hay que seguir andando sabiendo todo eso!!
Besos, es maravilloso
Âmago. Que não há terapia para as metástases da paixão.
Abraço.
R.
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