segunda-feira, 27 de julho de 2009

Desde manhã cedo que me enervaste o  suficiente para não me apetecer comer.

Por não ter fome continuo enervado, por isso, vai comendo tu.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Compasso em espera

"estar aí, no aberto vulnerável à ruína de todas as paisagens interiores,
é estar na margem permanente do medo"...
in biografia de al berto . golgona anghel

Para que cedo viesses,
recuperei a penugem do
caminho gasto em folhas castanho-velho.
Era tempo de cerejas e pássaros:
eu florescia finalmente na quimera do verde vivo.
Não era uma magnólia,
nem a busca do doce
e suas antíteses que me moviam,
era a evidente verdade:
sem ti o meu corpo era um barco condenado ao seu naufrágio.

Foi por isso que passaram estes milénios
onde Sherazade se reinventou:
passou de histórias a novelos
e tricotou um longo cachecol
para agasalhar o medo.
Em nada temeria o Inverno,
não fossem as rugas abertas nos dedos que oscilavam
a cor dos pigmentos do sangue.
Fizera-me estátua de espera,
sentara-me.
Entre os deuses,
continuava a preferir-me mulher.
Tu, homem-árvore,
cresceras-me por dentro,
semando raízes.
É inalcançável a célula através da qual te multiplicas.
Compro a viagem,
tenho um passaporte de cá para lá,
posso dizer-te sem metáforas:
conheço os lados geométricos do mundo,
mas és um anti-hemisfério,
ocupas a galáxia, corrompes-lhe o movimento,
tens uma hora certa, num dia longo.
No calendário onde te risco,
insistes em aparecer:
és a folha que não se rasga...
Homem ou árvore, a minha metáfora é a minha sede e cabe num copo.
Nunca te menti,
sou de excessos,
Bebo café, mastigo sal,
sem sabor sinto-me nua,
mas aprendi o pragamatismo,
coloco pontos nos iiiisss,
pontas nos pés e danço, danço, danço...
sou uma bailarina a inventar sonetos,
a compor sonatas, a perder-se no sono.
És uma noite que ficou por dormir.
Tenho coisas nos bolsos que diminuem,
que se encolhem,
pesam menos do que eu.
A minha casa é um lugar que não sei dizer.

Este é o relato da viagem onde fui marinheiro e gato.
Freud retalhou a psicanálise e colou-se ao meu pescoço.
Arranho o livro,
parece diferente e dilacerado,
mas as linhas são as mesmas e são muitas.
Com elas meço o destino,
coso os pés às meias,
costuro a pele por cima do vestido.
Transcrevo-te do livro, nomeio-te:
PEREGRINO DAS LÍQUIDAS ESTRELAS
(o peregrino tem a consistência do seus hábitos).

Levas-me de novo aquela casa?
O que fizeste à nossa?
Quero saber do teu avô e dos corpos que ele emoldurou em livros.
(e tu respondes-me num poema antigo: "parti porque a casa estava vazia")
Ou então:
queimemos a casa,
tu serás pai de um noticiário qualquer.
Repetes a mulher.
Na verdade, eu vi sempre a casa do lado de fora da janela.

Ou então:
não me abandones,
a noite é escura
e eu gosto de te rir.
Colemos os mosaicos dispersos,
quero ser vitral ou clarabóia,
um lugar de luz.

No fundo ainda te inspiro,
quando te soltas de mim
transformas-te sempre em tentativa de poema.
Eu era-me para ti.
Descansa, não voltarei a escrever-te alto.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Lamento aos que não conheçam que não conheçam RICARDO PASSOS

Ricardo Passos é artista plástico.
Artista. E de plástico apenas tem duas coisas: a composição química que lhe permitirá perdurar muitos e muitos anos e a elasticidade interminável da sua original visão do mundo.

Mas um Artista não pode ser apenas artista. Passos tem um talento descarado. Que dói. Observar a obra dele é sermos invisuais, porque é ele quem nos conduz e dele são os nossos olhos. Não, não é exagero. Exagero é o esticão mental e emotivo que ele nos obriga a dar para apreender donde vem tanto cosmos embutido no pêlo de cada pincel.
Não se faz, Ricardo!

E não se faz porque é sempre aquele quadro que queríamos ter pintado e nunca conseguimos. Não se faz porque só daquela porosidade saem tais qualidades sufocantes.
Cada quadro, de cada série de quadros é uma tela musicada, escrita, esculpida, uma orgia donde nenhuma das artes se esconde.

Nem só de cósmico se frui, há algo muito terreno, muito uterino também, uma quietude quente que nos abraça a boca.

"Pintei imaginando, porque nunca poderei sentir" - disse algures.

Ok, eu calo-me. Realmente não tenho palavras para descrever, aqui fica o próprio pelo próprio...





ainda...



e mais...



ecos em http://www.artmajeur.com/ricardopassus/

fica a homenagem aqui. espero que com raízes.

terça-feira, 14 de julho de 2009

"Amanhecer ou Pôr-do-sol do Burqua?"


poema-dental

O poema factor 50 espreguiça
oh! areia tumulto que espraias.
Houvesse cedilha e dava piça
bronzear dunas sob minissaias.

Cavalo de tróia adentrando Helena
bandeira verde na alma da pequena
estendo toalha acendo fornalha.
Que bem trabalha a tua tralha morena.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Il mio volo radente


Sem tir

Sem tir
eu não era camionista.
De emprego em emprego a sair,
nem carpinteiro nem pianista,
nem sinaleiro nem malabarista,
nem rasteiro nem comedor de alpista...
Não seria feliz o porvir
sem o amor à segunda, talvez terceira vista
que me estimulou a insistir
me derramou no alpatrão da autopista
e me fez prosseguir.
E hoje, quando o trailer dista,
são saudades que estou sem tir.
Acredito que não exista
outro amor assim no mundo real revista
da socialaite de amor-tecedores no ir e no vir
se acaba todo mundo por se trair.
Por onde a estrada seguir
tornando-se no horizonte singela risca
nunca alguém me verá sem tir.
Desistir?
Não sou tipo que desista.
Polícia algum me pode proibir
de guiar, guiar enquanto nas mãos tiver faísca.
Sonho que conduzo quando durmo a conduzir
pesadela-me acordado o que sentiria sem tir
: oh! excomungado camionista.
Assobiar a minissaia daquela francisca,
projectar artisticamente pela janela a prisca,
atropelar a vaca, o país, a sardanisca,
no altar do terço, miss mamalhuda e futebolista,
com paragem para arroz de feijão e patanisca,
sinceramente camião espantado de existir
sobre rodas enquanto a morte não belisca.

escancaro

Aprendi tudo desde a tua
morte. Passei

de pedra a madeira
e de madeira
a vidro. Frágil e superlativo como
o corpo que sou a viver dentro
de uma rodilha de suspiro.

O cancro não se come. Ainda não
há garfo e faca para o bicho. Ainda tentei
sentir as metástases no céu
da boca. Procuro entre mim
o aço,
encontro-lhe o superlativo no amor
à perda.

Odiar-me-ás quando te confessar
que guardo o teu cancro
na têmpora esquerda. Na direita,
a arma que o matará quando
ele acordar outra vez. Rede

entre o cancro e a sua morte,
o meu escandaloso e
tenebroso
cérebro.

Perdi tudo desde a tua, desde a tua,
a tua, sim, a tua
morte. Ouço-me em dificílimos decibéis
de dor guinchados em palpitações
anónimas (não são

nada anónimas pois estão) com o teu
nome esventrado.

Se as minhas pulsações és tu, também
eu morri de cancro
há tempos. Adeus às coisas aí, esta
é,
indubitavelmente, a obra-prima
do brilho que a paixão tem
no escuro.

Brilha que interrompe.
******

pedro s. martins

Leituras para a semana

(Últimos poemas, Nuno Rocha Morais, Quasi)

já disponível nas melhores livrarias.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

O ESCUTADOR - HORMONAGEM A FRED EINAUDI

I
"O suor crepita dos poros
enquanto a tua língua me
(en)canta,
perco-te entre o futuro
e o passado de um sismo
para regressar ao sorriso
sempre presente."
Alto lá e pára a pulga da brincadeira!
Um escutador não é necessariamente um amigo, mas um reflector a quem nos conseguimos expor.
Se estás com a purga atrás da orelha o melhor será reflectires sobre o factor ego na entrega do alcoolismo.
Sim, sim, já sei que um autoclismo funciona como uma torneira, mas digo que dessa água não beberei.

Na procura de um escutador procura os dois sentidos, porque obcecado pelo génio, o agir nas peles inferiores e humildes da vida é perturbador para ti.
A palavra substitui o corpo, dizes-me.
Pois.
Mas não estou numa fase de hóstia, nem hostil, essas hostes de hastes estuam apenas no teu estuário de descargas.

II
Trazes da infame infância dióspiros? Escuta, dor...como antes não suportas as ombreiras da frustração.
Óbvio? óbvio mas não óbito. O hábito que teces é que essa incapaz cidade que dissecas é uma manif dum rei interior.
Aparentemente é lógico. Julgas tu, nesse hálito etéreo eternamente etário, ó otário.
E os dois sentidos? O estéreo?
O teu desejo é a lei do teu mundo, do teu mundo da infância.

Ai ai que a frustração é uma ameaça. Mama algo que isso passa, diz o reflexo amigo autoclismo.
Ameaça, sim. Ao estatuto de Sua Excelência, "de quem todo o ser é desafiado pela calamitosa interrupção".

Stop - Desentope - Desentoa – Desampara-me o balcão,

não sou andragogo,
nem bom poeta,
jamais um mais-que-tudo,
nunca premência
ou pré demência.

Sou um avo, e voo.

III
"(de)leite de estrume. Avanças
o músculo. Torpor e intuição
que dá eco nas igrejas
drenadas pelo trono.
Vens. Tomas e retomas
o fim de tempo do suor
colado ao palato. Assomas
ainda o tutano e os ossos
com pós e cinzas
e asas que tu apagas"

Afinal, não querias ter de parar. Claro, Master cardo absolutista.
E atiras-te em frente, imparável. E essa pressão apressada? Aguentas as águas bentas bolorentas? Ou o speed é do café? Ah, no café.

O escutador valoriza a objectividade e desprendimento, confiando no esgoto honesto e directo.
Confuso? É difícil seres tu a reconhecer a auto-ilusão ó espelho teu, espelho teu.
Um expurgador é enrugado, falacioso e mentecapto. Eu disse escutador.
O copo apadrinha-se, amarinha-se, abatina-se, aparenta aparelhar num acarinhamento seco.

Estás refém. Síndrome de Estocolmo. O Herberto Barbas explica-te. Veias que expulsam a pulsão do esporão de espelta destilado. O pão, a mãe, a rosa.
Uma guarida-querida. Ferida-Calo.

"Silêncios quentes, quietude conspirativa do beijo
e sempre a própria aorta cúmplice como eco.

Cápsulas insonorizadas, secretas águas do toque
e nunca a exterior morte como congregação.

silencia-se a cápsula no limbo da respiração
da pele

silencia-se a cápsula no limbo da respiração
na pele

silencia-se a cápsula no limbo da respiração
na pele."

Sê Narciso e Sereia.
Estéreo?"

IV
"Fascinei
e
faxinei metade do mundo
metade de mim
metade de ti
encontrei um espaço, lacónico, só teu, como uma anátema
ai
um fio de impermeabilidade
que dói ao cair em ti

fascinei-me
e
faxino-me
perante a imagem
que inconsciente intuí
de ti

tenho saudades de ti-mim
dum mundo sentido

apenas planamos em universos
nossos.
anda-me-te."

Pá, o Ego que é imparável fixa a íris e investe a vida só pelo sim ou sopas duma paragem rápida ou se tem de aguardar pelo pão na fila.
Se paras separas-te de ti e ficas preocupado e depressivo. Se aguardas ficas ansioso casado com o pânico, de penico na mão trémula, e se o papão diz a deus adeus moves-te aliviado e alegre.

O leite azeda e o útero morre, as asas voam-se-te e surge o expurgador que não é escutador da tua surdez de realeza, pelo cano abaixo...
E ruges um piar.

V
"As putas das algas reuniram novamente
para apetrechar boatos sobre as tuas pautas
sujas de café. Pediram perdão, queriam
ser diferentes,
brutalmente indolores.

Como as flores de ferro forjado.

Afinal amassam pão com lâminas
e sorriem húmidas vivas e lúcidas.
Contentam-se com nunca se saberem contentar.
Mudam mas mudas, ou pouco faladoras.

Repensam e limpam a tua orquestração
com taças de areia e lava,
e das madeiras
nascem pontapés dos sorrisos das nuvens..."

Não tens escolha, Ego-clismo: não consegues segurar uma característica e defecar outras que não amas. Não percebes? A Adília Bombas não te explica. Nem o esquentador do lado de lá da tua almofada fadada.
Não tens escolha, Ego-clismo: não consegues segurar uma característica e defecar outras que não amas. Agarrares o que achas de bom é amamentares o Ego. Ou ejectas tudo ou ele volta.

Mas nem tudo é mau.
Tens um escutador.
Um escutador que te ecoa:

"e depois?
Não me há trevo a decifrar
a narina de van gogh girassoldada
chovem línguas nos mamilos de modigliani
porno grafismo ou corn felattios ?
cruxifi(quem?)-me num favo de mel gibson
e depois chorem ao som de woody aliens
dos piropos pirosos de poros pueris, freuda-se

a lucidez hieroglífica as têmporas das tâmaras
e os caroços esteticistas comem-me a impressora
porque lhes disse que chocos com tinta lá caíam"

a poesia gregoria-se também ou temos todos que usar gravatas nos pénis?

VI
Que o amplexo é complexo já se sabe.
Sabe-te a pouco e apouca-te.

Quanto ao Fred Einaudi (que tem um escutador) não me parece que goste de Harry Tiebout, Freuda-se!
Nem tem pimba dos balcãs, soutiens debaixo das mesas, corn flakes com whisky, lápides na sala.
Não lê sobre autoclismos, nem me dá o telefone da Adília Lopes...

Cantos a Medusa III

Porqué te apagas animal intermitente?
Porqué apagas la luz que te traían?

Es este temporal
entre tus raras caras encendidas,
este pulsar que no cesa
ni se cansa?

Es este evento de clausura
este migrar en el oceano feroz
en la penumbra?

Es ese grito
atado a tus fauces
encerrado en la caverna de agua
el que te arrastara?

Es el mar con sus variables
es tu imágen no nacida?

Es la madreselva
el ave blanca
la alta rama
que te llama?

O es esta noche
este infinito que no late
de piedras contraidas
este terror
este destino?

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Due Occhi Rossi

I

Due occhi rossi,
disteso, schiacciato
sul lenzuolo d'asfalto;
segnato il decesso:
negro,
forse del Transvaal,
un nodo, un fagotto,
e via, come pacco di spesa.
Solo un grappolo fermo,
poche mani, nere d'inchiostro
a spostare quell'aria.
Muovemmo le spalle
non i pensieri
infiammando di pugni le tasche.

II

Isole verdi
isole a celle
isole d'azzurro e delfini,
ombre increspate da salti di mare;
uno scendere piano le scale
verso i confini del fondo:
ricordi di Tanga
di Rudolph, gonfio di morte,
lungo, in quella piroga,
le scarpe a tracolla,
il fegato in mano;
tirava sul prezzo un vecchio stregone.

III

Un tramonto continuò col fuoco sul ferro,
si prese una voce:
nessuno lo vide,
calata sul collo la maschera vinta,
gettare nel gorgo
la croce del sud
e polmoni al petrolio
e guardie di notte
e coste
e rotte
e solchi sul viso pieni di sale
e il coraggio, per prati del fondo.
L'ultimo grido è un muovere d'alghe.

IV

Sopra un monte di sale
rema una barca piena d'occhi:
rossi d'asfalto, di Rudolph e di altri tra l'onde,
non un porto l'accoglie col nylon.
Non esistono banchine per sbarcare la morte.
Ho liberato da rami e da foglie
soffiando tra il bosco, dopo ogni tempesta,
una fossa, piena di vermi,
di bocche i Costa d'Avorio,
di teste nere tese ad affumicare,
di secchiate di nafta,
di mani che spingono il giorno,
di becchini con vanghe dal tocco di Mida,
di gambe di donna bagnate di mare.

Ho consumato tre legni spostando gocce nell'acqua,
la prora violenta i miei mari tra tonfi,
aliti di vento non gonfiano una vela,
...e uno sta sempre seduto a guardare.

versículo perdido

El sol baja a desalmarse
y en el último floreo de la tarde
me pronuncia un escándalo en el pelo

Con manos de calandria separa
lo que daña
del silencio
y te ovilla en la voz del viento


no hay amparo

Frammento

Vedo smerciare
miele di vipera
per le strade.
Agito braccia di carta
che il vento disperde,
bocche cariate deridono
i miei abiti di clown,
in questo proscenio
di morti.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Sabadomingo

Dicen, los que dicen que saben
que el pez por la boca muere.
Prometeo me mira desde otro lado del vidrio y basta.
Yo soy el pez en el aire.
 
Ayer y hoy se agarran de una silaba
y alguno me invita a ver lo que sabe hacer la muerte:
 
Yo paso de largo
Se me antoja alguna otra variación de la memoria
entonces la recuerdo atenta y con vestido.
 
Pero la muerte me arrima más distancia.
 
Ya temprano hablábamos de huevos,
gallinas cerealeras, gatos, hierros, comadrejas.
¿No lo sabíamos?
Celebrábamos el entierro de la víspera
 
Por la cocina me muevo sin delantal, sabiduría ni accesorios,
preparo un almuerzo que no procuro terminar.
Vuelo a la hoja
porque Prometeo se posa en la prosa
del último verso
y me hace caer unas preguntas:
¿Qué?
¿Se llamará Soren el hijo bastardo de Kierkegaard?
¿Todo tanto se amontona?
 
Ahora el niño reclama un almuerzo
exento de lápiz y papel
pero pretende que aun la música.
Saca de su bolsillo unas monedas
como un mago
me tira un beso
entonces todo el mar
 
Y este mediodía de cortinas
se merece el gorrión que lo desvela
para que yo, el pez en el aire,
pueda sentarme frente al anzuelo de la muerte que.

Dulce, abandonei-me

(Júlio Pomar)

Aqui não vão encontrar
ascensões, apenas o arcaísmo
armadilhado que não cessa
nem estanca
o vazamento da dor.

A tremura denuncia a quem
me vê
tudo o que conteúdo do casaco
aluído no meu corpo. Tudo
na Foz cheira
a esperança, tudo na Foz
é vapor
rico de quem não ficou
na plebe à espera
do derreter da vida.

E toda esta esperança-espectáculo
tem bastidores. Cai(r)am tristezas, caem
tristezas,
(bate vagabundo no sofrimento
de dormires
a estala o banco de jardim;
barba e cabelo sem rédea,
e a tez
cremada pela idade de se ser vivo
são chave para o abismo.)

A fome é tão corrosiva que a consigo
cheirar
daqui. Exilado pela árvore genealógica
da sociedade, és galho
que vai partir (vais
partir.
Vais.
Quebrarás sem restolho
na Foz.)

[Dulcinha-sobrinha, vire a cara para o outro lado. Veja a montra. Está
ali um pedinte, um pedante, um daqueles, está a ver? Dulcinha-filha,
olhe ali um jovem de cabelo solto e de riso
que importa à neve. Dulcinha-afilhada
ignore aquela morte
ali estatelada
no banquinho de jardim.]

Dulce-mulher, cai a maçã,
parte o ramo, arde o cheiro a serpente, fica
o aroma a morangos espremidos na hora. Fosse
aquele o último homem e a colheita estava
estragada, aluía-vos
o estatuto.

Levanto-me do banco, ando e sei que mal me coube
uma pessoa na minha
morte de ontem.
******

pedro s. martins

sábado, 4 de julho de 2009

Cárcere

Rasurava na parede nua da cela
os dias - erros- por defeito à altura
da minha morte.

Reflecti -
achei o acto de tremenda tolice.

Passei a escrever os poemas,
com uma gilette ferrugenta
e romba, na prisão do corpo

- passos contados
no corredor da morte.

Bruno Sousa Villar

tropicantropus erectus

" Minga Mingus Pithecantrus"

sos son de suburbio empedernido
en sistema binario de colores

hijo de olvido
alcohol y noche
cumbia
andante ma non tropo
y reguetón

y ella se ciñe
a su pollera colorada


de gorra brillante
moviestar
de birra y pedra
sin jangada
el Paraná de fondo
y que te importa la espesura

parlante
cromado
gran volumen
mangas largas
sacuden tu noche
los coros de bailanta




reloj de marca
quien lo sabe
oro o brillo
y quién da mas
si ella se ciñe
a su pollera colorada
.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

A quinta de mim

..........Rompendo

recortes de jornal

......acordes de si

ciclos curtos

senhas de acesso para si

.............trancando

.................redemoinhos do outro

.................abusos marcantes

.....rastros de limbo

.........e esmiuçá-lo até ficar

.........................................raso como se

não coubessem coisas entre nós

.....e sermos estribos de animais de porte


.............chorume vendável

.............e qualquer coisa

....que seja atrito e incandescência

como os vagalumes que sempre fomos

e espremermos nossa luz contra um carro

compra mãos de deboche para acenar para ti

................são coisas lindas de si

.................................linhas leves

................................que só se alegam


[Vim pedir licença para entrar na casa pela primeira vez. Obrigado a todos pela presença e convite.]

Un punto di vista diverso - A Different Point of View


Todo o silêncio é sulfúrico quando nasce morto o diapasão da normalidade


de bisturi como batuta enquanto esculpia poemas na carne fria
lembrou-se dos estupros dos selváticos monstros encavalitados na sua mãe

entre os silêncios sulfúricos que migravam para as gavetas subliminares
e os uivos com palmadas no dorso do depósito de esperma maternal
seus sonhos faziam greve

um olho suicidário escolhia uma lágrima e escarrava flores de ferro forjado

acostumara-se a desenhar frases bíblicas no torso em frente ao espelho
a agrafar as pálpebras ao som do crepitar dos membros que ia partindo
para pandorar melhor as imagens e assim construir os monocórdicos desejos

um dia escolheu uma grávida e com ela ainda viva mastigou o feto
recordou a fivela do cinto escondida por trás dos joelhos como um diapasão cru
e o sémen selvático de um macho a orquestrar nas cordas vocais

foi o inverno em que as gotas floresceram e o vermelho férreo das menstruações
lhe gatilhou os traumas da putrefacção do paladar cósmico

quando apenas o aroma graálico dos lábios da cidade feminina em decomposição
lhe oferendou uma já muito tardia mas esperada erecção

quando dentro do frigorífico o bolor do funil que lhe servia de expiação o exilou
na apneia castrada das suas projecções patologicamente pintadas nos cadáveres
que congelados simbolizavam a crença de um futuro mais que per si feito

hoje o bisturi não se cansa e fermenta o universo que lhe empareda as sílabas
as sombras unidas pelos joelhos risos sonâmbulos e vedores que caem dos tectos
ecos palpáveis feericamente rebeldes que gritam larvas autoritárias na sua leitura

o punho frígido fogueira-se e mimetiza a catapulta da respiração ansiolítica
ele quer aprimorar a obra mas o devir ainda debita sangue e sabor metálico
como uma anestésica semente desinteressada no caos poético dos mundos
uma sesta ufana -merecida- em posição fetal numa semiendeusada fasquia libertária
orgias oníricas com freiras quentes e pecados elasticamente prazenteiros
contelações de conchas laminadas na purga incessante das percepções pulsantes
estupefactrizes cúmplices no muro de gás cinestésico dos ódios ao amor
os ósculos libertários nas salivas secas do imobilismo cândido e conivente

interessam lá os palácios erigidos que sugam os mamilos das civilizações
interessam lá os demónios que não lhe desnudam a genialidade canforada
ou os felinos amantes que adormecem na erosão suada da plenitude humana
ou as santidades amolgadas pelos avanços tecnológicos das esquinas citadinas

com o clitóris peçonhentamente ébrio entre os dedos em direcção ao inferno da boca
emancipa-se o anacronismo do físico fugaz nas vísceras do arco íris dos anciãos
e surge a vagem cremada pelas rugas desfolhadas da memória dos eclipses

em cada corpo desmembrado correm na espiral dos poros cápsulas de poeira pura

as dúvidas como dívidas incham o mirrar das veias oportunisticamente compreensivas
e crente e extasiado contrata numa flecha os demónios que havia suado

dos silêncios sulfúricos enevoa a loucura pulsante de um abraço o esperma seco

"...e le mie invidiose vicine di casa diventeranno cibo per i gatti."-"...and my envious persons neighbors will become food for the cats."-"...e meus


considere-se um mundo com um homem no centro. considere-se que não se trata de um homem qualquer mas de um humanista puro. considere-se este um homem perfeito. considere-se que não há conflito semântico entre os vocábulos homem e perfeito – ou seja, ignore-se a antítese. ignorando a antítese é-se forçado, consequentemente, a ignorar todos os lexemas com significado, ainda que remotamente, ligados ao conceito de posições opostas. ignore-se, portanto, as palavras oxímoro, antónimo, desavença, conflito. poder-se-ia forçar o esquecimento da guerra e seus sinónimos. assim seja. consequência: este homem no centro do mundo, sendo perfeito, aperfeiçoou-o. de repente, um mundo antropocêntrico deixou de ser uma ideia renascentista, logo, arcaica. missão: encontrar o homem perfeito. matá-lo.

All the religions in a just one cathedral "shot" in the space to meet God


:

Nunca gostei das flores nos ramos,
nunca suportei o cheiro das flores dos molhos,
nem das flores que como presentes se dão.
Quando morrer nunca me leves flores nos punhos,
leva antes cigarros a mais para que por lá te demores,
leva um copo de vinho e ri-te com os demais em brindes e goladas.
Quando não poderes aparecer
traduz estas palavras em todas as línguas,
atira-as ao vento,
quem sabe, enquanto ali estendido,
receba estranhos vindos de longe para as frenéticas orgias
que prepararei para os eternos serões à luz das velas.

:

A criança do homem pousado

(Tomé Duarte)

Estamos muito mais descontraídos,
as imagens já devoraram a mente
que tinha para devorar, o corpo
já cedeu à tentação de desenhar
formas e o indomável ser
despenha-se noutro corpo
despenhado há tempo.

Estamos muito mais
relaxados. O dínamo de ser
criança já lá vai, extinguiu-se
quando deixamos de pedalar
na vida. Não vejo nada, não
digo nada, não centrifugo nada
que não seja este cair em cima
de ti, humana de veia fervente.

Esta vida é uma paisagem
truculenta em ti. As musas
morrem sempre antes do artista
cegar a arte; as inspirações disparam
em linhas, o eu – sim, o eu – descende por bocas
até bem
ao fundo.

Musa morta, relaxo eu agora. Tudo
faísca em meu redor. Fumo
em abundância por aqui,
onde os furos de onde
ecoa (seria
um erro

escrever escoa) o sangue da artéria
têm o nome de ralos radiais. Verdade, morro
por um nome que aprendi na televisão: radial.

Fica
o que não dói, fica nada. Levo o alimento
com o final
deste põema radial.
Este não ferve,
fica o põe
ma a marinar em lume brando até não
estar tão relaxado, ou,
até a, ou até, ou

até a musa acordar.
******

pedro s. martins

Cantos a Medusa II

Y todavía cantás y cantás
a la voz del hombre que no sabés,
al silencio que te esconde

-Sagrado Corazón no corras más- decís coronada en la frontera y escuchás

- Mirate bien Medusa
¿Ya te viste reflejada en el rostro del espejo de Perseo?
No te pariste erguida, lo olvidaste.
Este es tu cuerpo, una sola columna que no alcanza.
En cada nervio tuyo hay una hembra que no repta.

Sola y antigua carne, sórdida matriz de qué guardás?
¿Es tu piel la que te asusta, el mar que te sabe de memoria,
o es esta hoguera abierta en la vigilia?

Ya seas

Ya flotes.

Dejá a un lado tu cabeza
ya no te pertenece,
agotaste tu poder en otras piedras.

Hay oscuridad y hay luz
¿ Acaso temés que volar traiga una condena?-

-sagrado corazón no corrás más- seguís cantando
mientras la quietud va desvistiendo los rincones del aire que descansa
y la sombra se llena de calandrias.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

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Com saudades dos beijos agudos dos cotovelos e das frescas nádegas nuas,

a cadeira arrepiava-se fria.

A rainha viajou, a rainha foi-se embora.

Na cabeceira da cadeira os meus olhos.

Nos seus pés, de ouro velho, a minha bába.

Aqui para nós, assim como só os ramos perdidos nos rios

viajam sempre mortos, a rainha perdeu-se por outro reino, por certo.


Sem rainha as entesoadas revoluções já se foram.

Já não se repetem as batalhas de cuspo de ontem,

nem o batido de suores nas bandeiras patrióticas onde nos enrolamos.

Não me falará mais das viagens que me fez,

nem do nome dos donos das nódoas das almofadas do coche,

que por sinal fincava sempre arreio no monte onde lhe comi os pêssegos.


A rainha arrastou-se pelas suas novas ruas,

foi-se-me embora despida do coche, da bandeira, de mim.

Hoje, tal como todos os reis de voláteis impérios, perdi a coroa.



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atraso, no entanto trago, 

champagne, champagne for everyone


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"un gruppo isolato" - " An Isolated Group"


Eu fico em qualquer sítio


onde quer que vá
penduram-se sempre em cabides baixos
as chagas que vestimos hoje

dentro das escadas das gavetas das almas
pediram as lágrimas que as usassemos,
como óleos de sismos nas plateias da desfolhada

dentro de mim a lenta velocidade da luz
agrafa-me o cheiro das mães impuras
como muletas ubíquas
sombras de garras do passado
pântanos de esquecimento da respiração
rios de lembrança do anti-nós

quando se encaracolam os seios da lareira
amasso-me de esquinas que esculpo de ti
em desculpas salgadas nas longas avenidas

dispo-me do pão negro que perdoei hoje
e o sol fresco dos cabides onde te sigo cai em pó nas virilhas das ruas
para que nasçamos reinventivos no útero absoluto das galáxias.

abortei-me da tua esbelta lembrança errática,
prefiro sorver elástico o teu soro amigo
a rodopiar no entretanto das expectativas,
enquanto bodes facilitavam os ossos entre margens.

plantei-me do estertor dos teus erros regurgitados
das lentas lágrimas que se espraiavam,
da espiral medula que pandoraste.

Está um cabide na nossa nuvem.
pendura as tuas lutas
que eu canto nú entre os ouvidos dos joelhos da cidade
que eu canto nú a quem respira o perder
na solidão imensa do ser igual

les petites torquemadas


Daniel Luís "dissidências" é uma águia atenta, em vias de extinção.
Professor universitário e sociólogo espalha arte pelas redes sociais, blogs e imprensa.
Em centenas de linhas que dele li nunca saltou uma palavra acintosa, um julgamento de valores, acusações baratas ou baixa politiquice.
A sua criatividade lúcida e inesgotável sentido de humor - só no êxtase dos predestinados - dispensa o humor fácil, banal, brejeiro e putrefacto que grassa por aí.
É o dom que possui que incomoda e inveja muita gente.
Daniel Luís nunca precisou do lambecuzismo, da cunha e de holofotes para ser genial.
Nunca foi um animal mediático, que as pseudoelites provincianas salivassem a cada esgar.
Tenho-o como um Homem sério, inteligente, de convicções. Uma peça rara e distinta.
Como tal, a abater.
A súmula da questão poderá ser consultada nos links abaixo.

Da minha parte um apoio incondicional ao Daniel Luís.

E um repúdio - recheado de convites a processos judiciais por difamação - a meia dúzia de pequenos torquemadas com tiques infantis de coprofagia que se masturbam pelo falso poder que julgam ter, com complexos de inferioridade mal resolvidos, com a inveja típica dos que cá andam eunucos a tentar que quem copula não o faça, com responsabilidades éticas e sociais que desdenham e cospem, com a degradante e indesculpável postura de selvagens aburguesados, com moralismos mentirosos encapuzados, com perigosos delírios do mais fino cariz neonazi.



Links
blog do Daniel Luís: http://sol.sapo.pt/blogs/dissidencias/default.aspx
facebook: http://www.facebook.com/daniiluis
twitter: http://twitter.com/dissidencias
artigos diversos: http://sol.sapo.pt/blogs/dissidencias/archive/tags/CENSURA/default.aspx ou http://www.facebook.com/group.php?gid=99524567266

"A Fragment Of A Secret Emotion"


"I miei manoscritti bruciati" - "My Burned Scripts"


...we men...blowing in the wind..


25 aprile 1974 : L'altra riva del Tago



Oltre il Baro alto
di là dall'acqua
lamiere ondulate,
un raduno di stracci
per un monte di mani.
Sopra,
distese nel vento,
incrostate di sale,
fredde,
altre mani stendono
poche ombre
su ampie miserie.
Ma, un sole d'aprile
ha fatto fiorire,
in quegli occhi inquieti
i garofani più belli

La nostra Rivoluzione - The Our Revolution



da notti sui libri
dalla messa in collegio
dal fumare in gabinetto
dalla domenica con i genitori
dal buco a spiare
dietro la porta a sentire
è nata.
Nell'assemblea d'autunno
nelle canzoni
nei volantini
nelle scritte sui muri
nelle occupazioni
nei baci sui muretti
è cresciuta.
Con le infiltrazioni
con le delusioni
senza modelli
troppi si sono sciolti
è rimasta
l'ironia del folclore
la violenza dell'isolamento
la voglia di invecchiare.

La nostra rivolta era
essere padri di noi stessi
questa è altra cosa
e noi ancora figli
muti
a guardare.

Frammento di Vita - Fragment of Life by Sergio Davanzo