sábado, 14 de janeiro de 2012

Inútil "song"

Devemos ter a poesia atenta quando olhamos o mundo,
ou a repará-lo que seja como  imaginada criatura ,
filho de madeira de embondeiro,
inútil Gepeto a criar obras para amar à sua imagem.

Sem enganos, o mundo deve ser um estar só,
porque quando ouço do lado norte da Terra  a voz da minha mãe
apetece-me atentar ao deus e seus infinitos subditos,
para que leve fogo onde ele faz falta....
e toda a gente sabe:
o fogo faz falta ao gelo, para que se equilibre em paisagens deveras apaziguadora
ou uma coisa que não lixe o juízo  e muito menos a alma.

Há quem diga que quando a alma não é pequena tudo vale a pena,
mas eu não sou da maioria: a alma não tem estatura.
A alma não tem estrutura.
E quem mais sente, será também quem mais mente?

Eu acho que a alma tem voz de Raul Seixas a lembrar que ela sim,
a cena ALMA,
o mecanismo alma,
a medusa alma, venenosa, fascinante, leve alma,
é metamorfose ambulante,
a vender-se para encontrar significados.

Tenho andado num exercício faz hoje 32 anos e uns dias,
trata-se de me tentar incorporar num militar dicionário de sinónimos.
Falho e penso: o que te digo tem riso de mim e rizomas das passagens,
influenciam-me as marés e eu escavo teorias convictamente,
coisa como esta que só a ti tenho coragem de dizer:
a malta tem é medo de arriscar, tudo vestido azul e branco para não destoar do
céu e das nuvens:
mas a paz não é um estado pacifico! É antes uma busca num volátil encontro,
areia que se some entre dedos
 (e de nada vale juntar muito os dedos e até acrescentar dedos 
de quem mais queremos juntar a nós...)
As mão nada sabem da técnica marroquina de fazer tapetes invencíveis
a arenas e areias,
por isso descuidam essenciais coisas.
E não é por mal, é por incompetência.


É de tal modo denso o estar existencialista
que relembro uma imerecida profecia de um amigo perdido no tempo.
Dei-lhe cabo do coração sem querer,
mas para um coração isso não interessa nada:
dás cabo e pronto,
agora se és bonzinho como madres e Teresas,
isso não importa.
Aqui aplica-se a popular sabedoria:
de boas intenções está o inferno cheio
e o coração para mim, com todos os seus defeitos,
é de todas as vísceras  a única que vale a pena continuar  acreditar.

Explico o porquê:
Quando deslindraram os mil tubos que seguravam o meu pai a este mundo,
o coração audaz dava sinais de si como quem diz
- "Este homem vai partir, mas olha para ele digno e forte a provocar de frente a morte!"-
e eu emocionei-me e consolei-me pela interpretação dos factos.
Interpretar é aproximar tudo a um estado de conforto - a dita zona de segurança-
sem tiros de guitarras,
qual Hendrix a revolucionar o telhado de alegria.

Na Guiné o dia é indescritível,
Cabral justifica a derrota,
afinal um partido é uma coisa simples de entender:
um partido parte. Parte gente e partes das gente.

Ontem escrevi com sentido
e quero desviar-me dessa incandescente luz...
sou da etnia poeta e tenho dentro todos os sonhos do mundo,
não me faças -por favor- falar deles,
perco o contacto com a realidade e instauro um  estado novo.

Eu quero estar no aqui que já não é um lugar,
é um cansaço e uma utopia,
é uma derrota e um recomeçar.
Tenho a estaca no coração: mato melhor à noite e morro melhor de dia,
na minha alma marco -1 grau,
a temperatura ambiente da emoção.

Se puder ainda hoje aqui volto.
Já gostei mais disto diga-se de passagem,
agora escrevo para esvaziar os bolsos.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Verticalidade Rebelde


A estrada corta a meio

Superficies rochosas instáveis

Quantos cristãos me terão visto nú?

Baixo o olhar sobre o medo

E espero clientes



Com a dor da derrota

Sou açucar num mundo de diabeticos.

Aos amigos... ofereço postais

Mas quando falo de luta

É nas tuas mãos que penso



Da solidão do convés principal

Das corridas de cavalos sabotadas

A um leilão de um circo falido

Aperto mãos de flanela macia

Que me acariciam o rosto.

Plumas de Ganso como guardas

Cravam-se nas minhas veis

E obrigam-me a viver

Com o vácuo nos ossos.



Atenção! Não vos aproximeis!

A embarcação é muito estreita

E eu estou a fazer o inventário da minha mercadoria.



Rebenta o talento num palavreado

Sem que o deixe enaltecer

Agarrando só lixo

Abandonando por estrada os feridos

Incertos em direcção ao horizonte

Queimando lentamente os fantasmas.



Quando te olho

Perdoo o meu passado.

Me sussurra o teu olhar

Me demonstra o teu sorriso.



Econimizarei a minha piedade

Grande como um punho

E o gume das facas

E cliente satisfeito

Terminarei como o açucar

No fundo da caneca.



Num lugar qualquer

Poderás observar

Como torre em frente ao mar

Colocada num céu de inverno

Os tapetes da minha mercadoria exposta



Que justifica o meu ofício.