quinta-feira, 9 de julho de 2009

O ESCUTADOR - HORMONAGEM A FRED EINAUDI

I
"O suor crepita dos poros
enquanto a tua língua me
(en)canta,
perco-te entre o futuro
e o passado de um sismo
para regressar ao sorriso
sempre presente."
Alto lá e pára a pulga da brincadeira!
Um escutador não é necessariamente um amigo, mas um reflector a quem nos conseguimos expor.
Se estás com a purga atrás da orelha o melhor será reflectires sobre o factor ego na entrega do alcoolismo.
Sim, sim, já sei que um autoclismo funciona como uma torneira, mas digo que dessa água não beberei.

Na procura de um escutador procura os dois sentidos, porque obcecado pelo génio, o agir nas peles inferiores e humildes da vida é perturbador para ti.
A palavra substitui o corpo, dizes-me.
Pois.
Mas não estou numa fase de hóstia, nem hostil, essas hostes de hastes estuam apenas no teu estuário de descargas.

II
Trazes da infame infância dióspiros? Escuta, dor...como antes não suportas as ombreiras da frustração.
Óbvio? óbvio mas não óbito. O hábito que teces é que essa incapaz cidade que dissecas é uma manif dum rei interior.
Aparentemente é lógico. Julgas tu, nesse hálito etéreo eternamente etário, ó otário.
E os dois sentidos? O estéreo?
O teu desejo é a lei do teu mundo, do teu mundo da infância.

Ai ai que a frustração é uma ameaça. Mama algo que isso passa, diz o reflexo amigo autoclismo.
Ameaça, sim. Ao estatuto de Sua Excelência, "de quem todo o ser é desafiado pela calamitosa interrupção".

Stop - Desentope - Desentoa – Desampara-me o balcão,

não sou andragogo,
nem bom poeta,
jamais um mais-que-tudo,
nunca premência
ou pré demência.

Sou um avo, e voo.

III
"(de)leite de estrume. Avanças
o músculo. Torpor e intuição
que dá eco nas igrejas
drenadas pelo trono.
Vens. Tomas e retomas
o fim de tempo do suor
colado ao palato. Assomas
ainda o tutano e os ossos
com pós e cinzas
e asas que tu apagas"

Afinal, não querias ter de parar. Claro, Master cardo absolutista.
E atiras-te em frente, imparável. E essa pressão apressada? Aguentas as águas bentas bolorentas? Ou o speed é do café? Ah, no café.

O escutador valoriza a objectividade e desprendimento, confiando no esgoto honesto e directo.
Confuso? É difícil seres tu a reconhecer a auto-ilusão ó espelho teu, espelho teu.
Um expurgador é enrugado, falacioso e mentecapto. Eu disse escutador.
O copo apadrinha-se, amarinha-se, abatina-se, aparenta aparelhar num acarinhamento seco.

Estás refém. Síndrome de Estocolmo. O Herberto Barbas explica-te. Veias que expulsam a pulsão do esporão de espelta destilado. O pão, a mãe, a rosa.
Uma guarida-querida. Ferida-Calo.

"Silêncios quentes, quietude conspirativa do beijo
e sempre a própria aorta cúmplice como eco.

Cápsulas insonorizadas, secretas águas do toque
e nunca a exterior morte como congregação.

silencia-se a cápsula no limbo da respiração
da pele

silencia-se a cápsula no limbo da respiração
na pele

silencia-se a cápsula no limbo da respiração
na pele."

Sê Narciso e Sereia.
Estéreo?"

IV
"Fascinei
e
faxinei metade do mundo
metade de mim
metade de ti
encontrei um espaço, lacónico, só teu, como uma anátema
ai
um fio de impermeabilidade
que dói ao cair em ti

fascinei-me
e
faxino-me
perante a imagem
que inconsciente intuí
de ti

tenho saudades de ti-mim
dum mundo sentido

apenas planamos em universos
nossos.
anda-me-te."

Pá, o Ego que é imparável fixa a íris e investe a vida só pelo sim ou sopas duma paragem rápida ou se tem de aguardar pelo pão na fila.
Se paras separas-te de ti e ficas preocupado e depressivo. Se aguardas ficas ansioso casado com o pânico, de penico na mão trémula, e se o papão diz a deus adeus moves-te aliviado e alegre.

O leite azeda e o útero morre, as asas voam-se-te e surge o expurgador que não é escutador da tua surdez de realeza, pelo cano abaixo...
E ruges um piar.

V
"As putas das algas reuniram novamente
para apetrechar boatos sobre as tuas pautas
sujas de café. Pediram perdão, queriam
ser diferentes,
brutalmente indolores.

Como as flores de ferro forjado.

Afinal amassam pão com lâminas
e sorriem húmidas vivas e lúcidas.
Contentam-se com nunca se saberem contentar.
Mudam mas mudas, ou pouco faladoras.

Repensam e limpam a tua orquestração
com taças de areia e lava,
e das madeiras
nascem pontapés dos sorrisos das nuvens..."

Não tens escolha, Ego-clismo: não consegues segurar uma característica e defecar outras que não amas. Não percebes? A Adília Bombas não te explica. Nem o esquentador do lado de lá da tua almofada fadada.
Não tens escolha, Ego-clismo: não consegues segurar uma característica e defecar outras que não amas. Agarrares o que achas de bom é amamentares o Ego. Ou ejectas tudo ou ele volta.

Mas nem tudo é mau.
Tens um escutador.
Um escutador que te ecoa:

"e depois?
Não me há trevo a decifrar
a narina de van gogh girassoldada
chovem línguas nos mamilos de modigliani
porno grafismo ou corn felattios ?
cruxifi(quem?)-me num favo de mel gibson
e depois chorem ao som de woody aliens
dos piropos pirosos de poros pueris, freuda-se

a lucidez hieroglífica as têmporas das tâmaras
e os caroços esteticistas comem-me a impressora
porque lhes disse que chocos com tinta lá caíam"

a poesia gregoria-se também ou temos todos que usar gravatas nos pénis?

VI
Que o amplexo é complexo já se sabe.
Sabe-te a pouco e apouca-te.

Quanto ao Fred Einaudi (que tem um escutador) não me parece que goste de Harry Tiebout, Freuda-se!
Nem tem pimba dos balcãs, soutiens debaixo das mesas, corn flakes com whisky, lápides na sala.
Não lê sobre autoclismos, nem me dá o telefone da Adília Lopes...

2 comentários:

Anónimo disse...

...mas tu escreves sobre autocataclismos. Água vaaaaai...!

Abraço

R.

isabel mendes ferreira disse...

soberbo Miguel!