segunda-feira, 13 de julho de 2009

Sem tir

Sem tir
eu não era camionista.
De emprego em emprego a sair,
nem carpinteiro nem pianista,
nem sinaleiro nem malabarista,
nem rasteiro nem comedor de alpista...
Não seria feliz o porvir
sem o amor à segunda, talvez terceira vista
que me estimulou a insistir
me derramou no alpatrão da autopista
e me fez prosseguir.
E hoje, quando o trailer dista,
são saudades que estou sem tir.
Acredito que não exista
outro amor assim no mundo real revista
da socialaite de amor-tecedores no ir e no vir
se acaba todo mundo por se trair.
Por onde a estrada seguir
tornando-se no horizonte singela risca
nunca alguém me verá sem tir.
Desistir?
Não sou tipo que desista.
Polícia algum me pode proibir
de guiar, guiar enquanto nas mãos tiver faísca.
Sonho que conduzo quando durmo a conduzir
pesadela-me acordado o que sentiria sem tir
: oh! excomungado camionista.
Assobiar a minissaia daquela francisca,
projectar artisticamente pela janela a prisca,
atropelar a vaca, o país, a sardanisca,
no altar do terço, miss mamalhuda e futebolista,
com paragem para arroz de feijão e patanisca,
sinceramente camião espantado de existir
sobre rodas enquanto a morte não belisca.

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