(Júlio Pomar)
Aqui não vão encontrar
ascensões, apenas o arcaísmo
armadilhado que não cessa
nem estanca
o vazamento da dor.
A tremura denuncia a quem
me vê
tudo o que conteúdo do casaco
aluído no meu corpo. Tudo
na Foz cheira
a esperança, tudo na Foz
é vapor
rico de quem não ficou
na plebe à espera
do derreter da vida.
E toda esta esperança-espectáculo
tem bastidores. Cai(r)am tristezas, caem
tristezas,
(bate vagabundo no sofrimento
de dormires
a estala o banco de jardim;
barba e cabelo sem rédea,
e a tez
cremada pela idade de se ser vivo
são chave para o abismo.)
A fome é tão corrosiva que a consigo
cheirar
daqui. Exilado pela árvore genealógica
da sociedade, és galho
que vai partir (vais
partir.
Vais.
Quebrarás sem restolho
na Foz.)
[Dulcinha-sobrinha, vire a cara para o outro lado. Veja a montra. Está
ali um pedinte, um pedante, um daqueles, está a ver? Dulcinha-filha,
olhe ali um jovem de cabelo solto e de riso
que importa à neve. Dulcinha-afilhada
ignore aquela morte
ali estatelada
no banquinho de jardim.]
Dulce-mulher, cai a maçã,
parte o ramo, arde o cheiro a serpente, fica
o aroma a morangos espremidos na hora. Fosse
aquele o último homem e a colheita estava
estragada, aluía-vos
o estatuto.
Levanto-me do banco, ando e sei que mal me coube
uma pessoa na minha
morte de ontem.
******
pedro s. martins
3 comentários:
a foz (e a Foz) é, ao mesmo tempo, vida e morte, felicidade e tristeza. Também riqueza e pobreza.
um abraço pedro,
tsg.
Sabem, ó caros, que estou muito surpreso com a tamanha qualidade deste espaço! viva!
Pedro, é uma honra lê-lo aqui!
Muito obrigado Heyk. O elogio é recíproco e extensível.
Pedro
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