domingo, 28 de junho de 2009

Agora o SILÊNCIO

Trouxe-te um presente para leres,
desembrulha a pétala,
bebe o pólen:
este poema é líquido.
Mais logo quando te cair a estrela
poderás bebê-lo a dois, a sós contigo.
Peguei no teu avesso.
Eras mais mãos do que pernas ou braços,
eu teria por missão medir-te os dedos,
mas todos os dias expandias-te em esqueletos,
que recortavam a paisagem-
ora árvores, ora gente em sombras,
extenso areal de poema,
ou forma-amor.

A tarefa era morosa,
porque enquanto o vento te sorvia as palavras,
os violinos tocavam-te as cordas vocais,
mas nada disso esteve para se cantar.
Disse-te alguma vez que o silêncio te assenta bem?

Foram tempos dedicados a medições efémeras.
reparei de súbito, que afogada na tua desproporção,
tornara-me mais alta do que a erva onde pousam os insectos ,
como se assim,
aprendendo o inverso dos tamanhos,
visse de novo a repetida janela,
em metamorfose,
alterando os ângulos do usado.
Este vestido foi teu,
dançei-te nele quando te via em
antítese da vida.
Parei quando desististe de morrer depois da queda,
por saber como te fazia feliz a morbidez.
Quantas vezes nos morremos?
Para mim, por favor, um abraço ou uma corda,
qualquer acto que te agarre
ao movimento das letras,
desde que não deixes a noite em tamanho certo de fotografia
de parede,
ou pintura barata que suja os muros dos meus pulsos,
onde passeias ao sabor do morno sangue,
passageiro do vôo número teu
em bold arrredondado de mim.

3 comentários:

Pedro S. Martins disse...

sempre única, Carolina.

Morreremos as vezes que forem necessárias.

gabriela piccini disse...

Bellisimo

Anónimo disse...

Carolina, Sulfúrica, melhor estreia era impossível.
O avesso do poema é tarefa dura.
Fizeste-a simples, como quem pega numa nuvem e escreve-lhe a chuva nos pés...