sábado, 14 de janeiro de 2012

Inútil "song"

Devemos ter a poesia atenta quando olhamos o mundo,
ou a repará-lo que seja como  imaginada criatura ,
filho de madeira de embondeiro,
inútil Gepeto a criar obras para amar à sua imagem.

Sem enganos, o mundo deve ser um estar só,
porque quando ouço do lado norte da Terra  a voz da minha mãe
apetece-me atentar ao deus e seus infinitos subditos,
para que leve fogo onde ele faz falta....
e toda a gente sabe:
o fogo faz falta ao gelo, para que se equilibre em paisagens deveras apaziguadora
ou uma coisa que não lixe o juízo  e muito menos a alma.

Há quem diga que quando a alma não é pequena tudo vale a pena,
mas eu não sou da maioria: a alma não tem estatura.
A alma não tem estrutura.
E quem mais sente, será também quem mais mente?

Eu acho que a alma tem voz de Raul Seixas a lembrar que ela sim,
a cena ALMA,
o mecanismo alma,
a medusa alma, venenosa, fascinante, leve alma,
é metamorfose ambulante,
a vender-se para encontrar significados.

Tenho andado num exercício faz hoje 32 anos e uns dias,
trata-se de me tentar incorporar num militar dicionário de sinónimos.
Falho e penso: o que te digo tem riso de mim e rizomas das passagens,
influenciam-me as marés e eu escavo teorias convictamente,
coisa como esta que só a ti tenho coragem de dizer:
a malta tem é medo de arriscar, tudo vestido azul e branco para não destoar do
céu e das nuvens:
mas a paz não é um estado pacifico! É antes uma busca num volátil encontro,
areia que se some entre dedos
 (e de nada vale juntar muito os dedos e até acrescentar dedos 
de quem mais queremos juntar a nós...)
As mão nada sabem da técnica marroquina de fazer tapetes invencíveis
a arenas e areias,
por isso descuidam essenciais coisas.
E não é por mal, é por incompetência.


É de tal modo denso o estar existencialista
que relembro uma imerecida profecia de um amigo perdido no tempo.
Dei-lhe cabo do coração sem querer,
mas para um coração isso não interessa nada:
dás cabo e pronto,
agora se és bonzinho como madres e Teresas,
isso não importa.
Aqui aplica-se a popular sabedoria:
de boas intenções está o inferno cheio
e o coração para mim, com todos os seus defeitos,
é de todas as vísceras  a única que vale a pena continuar  acreditar.

Explico o porquê:
Quando deslindraram os mil tubos que seguravam o meu pai a este mundo,
o coração audaz dava sinais de si como quem diz
- "Este homem vai partir, mas olha para ele digno e forte a provocar de frente a morte!"-
e eu emocionei-me e consolei-me pela interpretação dos factos.
Interpretar é aproximar tudo a um estado de conforto - a dita zona de segurança-
sem tiros de guitarras,
qual Hendrix a revolucionar o telhado de alegria.

Na Guiné o dia é indescritível,
Cabral justifica a derrota,
afinal um partido é uma coisa simples de entender:
um partido parte. Parte gente e partes das gente.

Ontem escrevi com sentido
e quero desviar-me dessa incandescente luz...
sou da etnia poeta e tenho dentro todos os sonhos do mundo,
não me faças -por favor- falar deles,
perco o contacto com a realidade e instauro um  estado novo.

Eu quero estar no aqui que já não é um lugar,
é um cansaço e uma utopia,
é uma derrota e um recomeçar.
Tenho a estaca no coração: mato melhor à noite e morro melhor de dia,
na minha alma marco -1 grau,
a temperatura ambiente da emoção.

Se puder ainda hoje aqui volto.
Já gostei mais disto diga-se de passagem,
agora escrevo para esvaziar os bolsos.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Verticalidade Rebelde


A estrada corta a meio

Superficies rochosas instáveis

Quantos cristãos me terão visto nú?

Baixo o olhar sobre o medo

E espero clientes



Com a dor da derrota

Sou açucar num mundo de diabeticos.

Aos amigos... ofereço postais

Mas quando falo de luta

É nas tuas mãos que penso



Da solidão do convés principal

Das corridas de cavalos sabotadas

A um leilão de um circo falido

Aperto mãos de flanela macia

Que me acariciam o rosto.

Plumas de Ganso como guardas

Cravam-se nas minhas veis

E obrigam-me a viver

Com o vácuo nos ossos.



Atenção! Não vos aproximeis!

A embarcação é muito estreita

E eu estou a fazer o inventário da minha mercadoria.



Rebenta o talento num palavreado

Sem que o deixe enaltecer

Agarrando só lixo

Abandonando por estrada os feridos

Incertos em direcção ao horizonte

Queimando lentamente os fantasmas.



Quando te olho

Perdoo o meu passado.

Me sussurra o teu olhar

Me demonstra o teu sorriso.



Econimizarei a minha piedade

Grande como um punho

E o gume das facas

E cliente satisfeito

Terminarei como o açucar

No fundo da caneca.



Num lugar qualquer

Poderás observar

Como torre em frente ao mar

Colocada num céu de inverno

Os tapetes da minha mercadoria exposta



Que justifica o meu ofício.

sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

VERTICALIDADE REBELDE - Sergio Davanzo -

A estrada corta a meio

Superficies rochosas instáveis

Quantos cristãos me terão visto nú?

Baixo o olhar sobre o medo

E espero clientes



Com a dor da derrota

Sou açucar num mundo de diabeticos.

Aos amigos... ofereço postais

Mas quando falo de luta

É nas tuas mãos que penso



Da solidão do convés principal

Das corridas de cavalos sabotadas

A um leilão de um circo falido

Aperto mãos de flanela macia

Que me acariciam o rosto.

Plumas de Ganso como guardas

Cravam-se nas minhas veis

E obrigam-me a viver

Com o vácuo nos ossos.



Atenção! Não vos aproximeis!

A embarcação é muito estreita

E eu estou a fazer o inventário da minha mercadoria.



Rebenta o talento num palavreado

Sem que o deixe enaltecer

Agarrando só lixo

Abandonando por estrada os feridos

Incertos em direcção ao horizonte

Queimando lentamente os fantasmas.



Quando te olho

Perdoo o meu passado.

Me sussurra o teu olhar

Me demonstra o teu sorriso.



Econimizarei a minha piedade

Grande como um punho

E o gume das facas

E cliente satisfeito

Terminarei como o açucar

No fundo da caneca.



Num lugar qualquer

Poderás observar

Como torre em frente ao mar

Colocada num céu de inverno

Os tapetes da minha mercadoria exposta



Que justifica o meu ofício.






(tradução de Nina de Luna)



Rebel Verticality




The road splits in two

Instable rocky surfaces

How many Christians have seen me naked?


I look down to fear


And wait for customers



With the pain of defeat

I'm sugar in a world of diabetics.

Offering postcards to friends

But when I talk about fight

I’m thinking of your flanks.



In the solitude of the main bridge

And in sabotaged horse races

To an auction of a bankrupt circus

I shake hands of soft flannel

That caresses my face.

Goose feathers as cops

Sticking into my veins

And forcing me to live

With the vacuum in bones



Attention!

Do not approach!

The boat is too narrow

And I'm making the inventory of my goods.



Stirs it up the talent in a rambling

Without let it praise

Grabbing just garbage

Leaving on the street the wounded

Unsure walking to the horizon

Burning slowly the ghosts





When I look at you

I forgive my past.

Whisper it to me your eyes

Shows it to me your smile



I will economize my compassion

Big as a fist

And the knife-edges

And satisfied customer

I will end like sugar

On the bottom of the cup



SomewhereYou will see

As a tower in front of the sea

Stucked in a winter sky

The carpets of my exposed goods



That justifies my profession







(Translation of Nina de Luna)











Verticalità Ribelle






La strada taglia in due

Superfici di sassi malferme

Quanti cristiani mi hanno visto nudo?

Abbasso lo sguardo alla paura

Ed aspetto clienti



Con il dolore della sconfitta

Io zucchero in un mondo di diabetici.

Offro cartoline agli amici

Ma quando parlo di lotta

Penso ai tuoi fianchi.



Nella solitudine del ponte di coperta

E nelle corse di cavalli truccate

All’asta di un circo fallito

Stringo mani di morbida flanella

Che mi accarezzano il viso.

Piume d’oca come sbirri

Si conficcano nelle mie vene

E mi costringono a vivere

Con il vuoto nella ossa.



Attenti non avvicinatevi!

L’imbarcazione è troppo stretta

Ed io Sto inventariando la mia merce.



Scatenare il talento in uno sproloquio

Senza lasciarlo decantare

Afferrando solo spazzatura

Abbandonando per strada i feriti

Incerti verso l’orizzonte

Arrostire lentamente i fantasmi.







Quando ti guardo



perdono il mio passato.

Me lo sussurra il tuo sguardo

lo dimostra il tuo sorriso.



Economizzerò la mia pietà

grande come un pugno

ed il filo dei coltelli

e compiaciuto cliente

finirò come lo zucchero

sul fondo del boccale.



In qualche posto

osserverai

come torre davanti al mare

conficcata in un cielo d'inverno

i tappeti della mia mercanzia esposta



che giustifica il mio mestiere.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

breves de Psyche



cuando te vayas
no me guardes
en la boca

quinta-feira, 20 de maio de 2010

autosacramental IV





la moneda es por el malabar
dice el malabarista sin bajar estrofa

cualquier gota no moja siquiera a un dios pedestre


ni vos
ni la voz
ahora
bien
la promesa
se parece a un tópico
aunque la selva
sea demasiado cuando se acerca a la noche

segunda-feira, 10 de maio de 2010

" In / ES presso : Un Ascolto Perfetto " commento di Maria Sole Politti



Miranda : “Mi ami?”(W.Shakespeare, La tempesta, III, i, 67)

In/ES presso: in un’esplosione dirompente di energia Sergio Davanzo definisce la struttura di un proprio originale codice espressivo per sentimenti ed emozioni.

In/ES presso, il nuovo evento/esposizione di Sergio Davanzo, deve il proprio nome ad un’intersezione di suggestioni e messaggi, relativi al sentire emotivo in generale ed al sentire amoroso nello specifico, e al loro essere connessi con l’atto sociale/socializzante di prendere un caffè. Espresso. Non a caso la prima tappa del percorso espositivo è proprio un bar, il Sei Come Sei, in Corso del Popolo a Monfalcone, dove una selezione dei quadri di In/ES presso rimarrà dal 15 maggio al 21 luglio, per poi spostarsi a Forte dei Marmi, in occasione dell’iniziativa artistica Proponendo, dal 19 al 23 agosto 2010.

Ad ispirare il pittore stavolta una riflessione sulle fasi comunicative delle proprie emozioni. In particolare è il processo di esternazione del sentimento per eccellenza, l’amore, a rivestire il ruolo principe, a partire da alcuni concetti espresso da Roland Barthes nei suoi Frammenti di un discorso amoroso, da cui molti dei lavori prendono ispirazione e titolo. La volontà è quella di dar nuova voce, trent’anni dopo la stesura del noto testo del pensatore francese, a ciò che nell’innamorato vi è “d’inattuale, vale a dire di intrattabile”. Parlare l’amore, dipingere l’amore oggi è infrangere un tabù intellettuale, poiché si rischia di scadere inevitabilmente nella banalizzazione del sentire. Persiste dunque di fatto il bisogno di immediatezza espressiva che induce a “simulare”l’amore, anziché descriverlo, fornendone un quadro strutturale più che psicologico.

La prima sezione del percorso si occupa della fase iniziale, ancora oscura, del processo dell’innamoramento, e, servendosi di una gamma cromatica circoscritta a tre nuclei di base (rosso, nero e metallo) sviluppa in pezzi come “La figura dell’attesa”, “L’ultima solitudine” “Visone: l’innocenza del dolore” una inquietante consapevolezza dell’imminente mutamento strutturale dell’apparato affettivo del soggetto amante, senza tralasciare il tormento che ne deriva. Siamo qui nella fase definibile “IN”, ancora racchiusa nel pensiero indefinito e turbativo. E’ ancora inquietudine.

Segue la fase meno buia della presa di coscienza di ciò che è l’oggetto d’amore, graduale, contrassegnata dalla crescente presenza di nuove tonalità naturali e calde, moka, volte irrimediabilmente all’area semantica del caffè, mentre il metallo passa dall’argento all’oro. Intervengono gusto e fragranza a stimolare i sensi a partire da pezzi come “Sogni incerti” e “Segni incerti” fino ad arrivare a “Un ascolto perfetto” e “Vie d’uscita”. INquietudine ed INcertezza vengono via via superate, ed inizia la fase di ESternazione.

La terza ed ultima fase del percorso vede una sentimento in piena esplosione. Passione, carnalità, affrancate da dubbi e sensi di colpa, emergono da fondi di buio. Rosso ed oro testimoniano con forza l’irreversibilità della compromissione, e la seduzione trova finalmente, ESpressamente coronamento. I pezzi coinvolti sono “Irreversibile”, “Reattivo”, i quattro elementi di “Sedotto”, accanto a “Carnale” e “Compromesso”.

Il percorso è totalmente astratto. Tutte le tele presentano una base di acrilico, sulla quale si innestano episodicamente elementi sintetici o pigmenti naturali. Davanzo in questa serie usa il colore con forza e parsimonia, affidandogli una forte carica connotativa ed ampliando la gamma cromatica solo nella necessità di arricchire la valenza simbolica e contenutistica del concetto su cui lavora. Pennellate decise e leggermente diluite individuano l’ambito d’azione, su cui si sovrappone un dripping misurato, calibrato eppure esplosivo, che spesso declina in casi diversi le varianti più significative dello stesso leit motiv. Un’action painting di natura inedita per l’autore, ponderata quanto raffinata, che sottolinea come gocciolamenti ed effetti vadano cercati anche sotto la superficie, a rivelare nuovi, sapienti effetti di luce.
Maria Sole Politti

quinta-feira, 29 de abril de 2010

esquerdino

hoje sei que nunca compreendi verdadeiramente a voz daquela mulher que tricotava o céu com a lã desvelada do seu amar hipnótico. eu, olhando para baixo, tudo o que conseguia ver era o afã maldito das ovelhas em ruínas. e, com a curiosidade tingida de ciúme, às aves imprevisíveis chamava fugitivas. tirava-lhes fotografias para vender, acreditando que o dinheiro serve para ver mundo. aquela voz falava, antes, cantava de uma flor primaveril, flor para além do tempo caduco. cada um dos seus dedos insistia em transformar-se na mais fina porcelana por entre o rasto aberto nos meus cabelos. o arado mudando para sempre a forma do mar. a sua carícia durava o capricho de um fósforo que alumia eternamente. a pólvora de um beijo. nela, vi-nos pela primeira vez a todos como bombas-relógio made in china que acabarão eventualmente por explodir a um preço módico. mas não quis assim, porque ela ensinou-me a tomar amor de imersão. um dia saí de casa para ganhar dinheiro como um homem a sério, qual um verbo rumo ao presente incondicional adormecendo perto do futuro-mais-que-imperfeito. sinto saudades do teu assalto à mão amada. de ouvir-te a voz incendiada dizer que amar é o nosso único direito. de descompreender que o amor é o nosso único defeito. e que o coração é canhoto, não importa em que peito

domingo, 7 de março de 2010

Filosofia Barata

O meu avô nasceu no dia vinte e quatro

de Dezembro, véspera de natal. Nesta noite

celebraria noventa e cinco anos. Nesta noite

receberia presentes e cumprimentos.

O meu avô já morreu, numa cama de hospital

amarrado porque queria soltar-se, a expectoração

cumulada presa na garganta até deixar

de conseguir respirar

Visitei-o um par de vezes; colocaram-no num quarto

em cuja cama ao lado morria um senhor de noventa e seis-

vítima de AVC.

Voltei ao hospital quando já só restava o meu avô em corpo

vestido de fato e gravata e base lustrando-lhe as faces.

O meu avô conseguiu o impossível: reunir quase toda a

minha família no mesmo lugar. Falei com primos e primas

e tios e tias de circunstância

Como vão as coisas?. Perguntavam.

Vão bem. Respondia.

E tu ali quedo e mudo sem ninguém te perguntar nada,

sem te estenderem um cumprimento, como se fosses apenas

um corpo bem vestido e barbeado, o cabelo ralo

penteado com risca ao lado como gostavas, como se fosses

um fantasma como se estivesses morto

Foi por ti que visitei pela primeira e até agora única vez

um cemitério o cemitério onde o teu corpo bem vestido

e barbeado, o cabelo ralo penteado com risca ao lado

como gostavas, foi levado a cremar pois nunca acreditaste

no encanto e no ludíbrio desse bem-falante

vendedor de banha da cobra a que chamam alma.

Desculpa, o gato sentou-se em cima do teclado exigindo

atenção; não é meu, pertence à minha namorada,

a minha nova namorada que tu não conheceste,

adorá-la-ias, é um sonho de mulher e

é disso que tenho medo- dos sonhos.

Como te dizia, foi por ti que conheci a morada dos defuntos,

que enfrentei o asfixiante medo infundado que lhe tinha,

quando o teu corpo foi queimado, lembro-me como tivesse

sido hoje, que não havia cantares de pássaros nas redondezas,

não havia risos, só a estatuária solene e calada dos definitivos.

Parecia que naquela tarde o tempo tinha reduzido sua velocidade

estonteante, travado suavemente para testemunhar ver-nos a

ver-te cumprir o ditado das cinzas

Tu que não davas uma boa metáfora memorialística

para um poema, pois sempre te esforçaste para não

ser alguém; que eras comunista militante do mau vinho

da timidez doentia e de um banho semanal - porque no teu

tempo era assim.

Tu que a única coisa que tinhas de revolucionário era o teu

rosto que alguém, a expensas de umas sobrancelhas farfalhudas,

confundia com o rosto do Álvaro Cunhal

Tu que não foste um dos milhares de judeus salvos do holocausto

por Aristides de Sousa Mendes, “ o Schindler português”.

Que não escreveste cartas de amor salvíficas enquanto combatias

Na segunda das grandes guerras.

Que não empunhaste ao alto as flores de Abril

nem davas uma fotografia bonita

na secção de óbitos do jornal.

Tu, avô,que não lias nem escrevias,

que discursavas engasgado pela falta de vocabulário,

que nenhuma mulher na rua repararia duas vezes, que arrastavas

pelas calçadas tua feira cabisbaixa mijada calças abaixo,

com os cordões desatados dos sapatos cambaleantes,

quase a tropeçar. Que passaste pela filha da puta da vida

como um figurante temente não sei a quê

sobre o qual já desfilou a ficha técnica

da fita.

Naquele cemitério, no teu cemitério

ensinaste-me uma coisa muito simples, que anos ignorei

como filosofia barata

Não temas os mortos.

Assombram-nos muito mais os vivos.

Que a terra te seja leve, meu neto, dependerá da chuva.


Bruno Sousa Villar

quarta-feira, 3 de março de 2010

de autosacramentales. - gabriela piccini -

…como quien vuelve a su don
a su provincia…



II

(colosalmente
un cuerpo se derrama
sobre la cuenca del día

la costumbre afligida
cansado el canto
de golpear entre las hojas)

así como se va desangrando un día cualquiera
una ciudad sin nombre
o cualquier casa sin sus límites marcados
se desangra el tiempo
entre la risa y la desesperación

segunda-feira, 1 de março de 2010

"Lahina Maui - The Wale's sing"


The light dripping technique evokes in this painting an inconsistent water-like effect, which, together with a strong dynamic tension, seems to recall the restlessness of a grey scream. Remote hints to figurativeness characterise the painting, giving it the faculty of generating an anxiety, contaminating on the whole its vibrating message. This effect comes from the denial of what was definite and black, and is now covered with cracks and highly polluting marks of white and grey. How long, one would wonder, shall whales sing?
(Maria Sole Politti)

domingo, 14 de fevereiro de 2010

San Valentino? No Grazie!

Non ti domando da dove vieni
Nemmeno dove andrai
Importante è che tu sia arrivata.
La strada taglia in due
Superfici di sassi malferme
La ricchezza è la cosa peggiore
Per un povero.
La materia scura
Non è un campo semantico ignoto
L’universo è instabile
Perché non dovrei esserlo anch’io?
Il marinaio ama in ogni porto
Il camionista ad ogni incrocio
Il pittore in ogni tela
Il poeta in ogni verso
Quanti cristiani mi hanno visto nudo?
Abbasso lo sguardo alla paura
Ed aspetto clienti
Con il dolore della sconfitta
Io zucchero in un mondo di diabetici.
Offro cartoline agli amici
Ma quando parlo di lotta
Penso ai tuoi fianchi.
Nella solitudine del ponte di coperta
E nelle corse di cavalli truccate
All’asta di un circo fallito
Stringo mani di morbida flanella
Che mi accarezzano il viso.
Piume d’oca come sbirri
Mi tagliano le vene
E mi costringono a vivere
Con il vuoto nella ossa.
Attenti non avvicinatevi!
L’imbarcazione è troppo stretta
Ed io
Sto inventariando la mia merce.
Scatenare il talento in uno sproloquio
Senza lasciarlo decantare
Afferrando solo spazzatura
Abbandonando per strada i feriti
Incerti verso l’orizzonte
Arrostire lentamente i fantasmi.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

2040 : "Progetto per una scrittura universale"

Un Momento Qualunque

Quando ti guardo
perdono il mio passato.
Me lo sussurra
il tuo sguardo,
lo indica il tuo sorriso.

Economizzerò la mia pietà
grande come un pugno
ed il filo dei coltelli
e compiaciuto cliente
finirò come lo zucchero
sul fondo del boccale.

In qualche posto osserverai
come torre davanti al mare
conficata in un cielo d'inverno
i tappeti della mia mercanzia esposta
che giustifica il mio mestiere.

Qual'è il prezzo giusto
per questa serie di ami?

Una moneta per l'acqua bollente?
due per lo zucchero?

Di legno e mare profuma l'aria
fra sospiri, impeti e sconfitte
con suoni duri come scogli
rispondi
e fioca fiammella il mio corpo
raccoglie.

Riempio i polmoni di solitudine
e di ridicola idea cristiana
d'inferno che falcia il ghiaccio.
Io sono riservato al vento
ma i miei occhi radicano
nelle crepe,
come seme migrante,
con la verticalità più ribelle.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

O cobre das pombas

O sol não podia mais
comia a gordura rápida
do alto planeta inteiro

uma calculadora praguejava
seus salários que não davam conta
na mesma sombra
onde passarinhos de capuz
limpam um jardim antigo

cavadores se fantasiam
e correm tubos de uma névoa grossa
sob o chão macio

guardas e xamãs
brigam por tabaco
e seus olhos pintados
não veem o ninho de cobre
onde a videira canta seu mantra

pombas marcham sobre a grama
e os piolhos das penas
alimentam o terreno
eles são à prova de seus planos
e fazem desse barro branco
o palanque para seu silêncio



[03/02/2010, jardim da Casa de Rui Barbosa | Rio de Janeiro]

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Inexpresable amor *

“...allí donde no estás: tal es el comienzo de la escritura” *



En el nombre del Hombre abrís los ojos
La bestia alada de tu ala intacta

Una víscera sobre otra víscera
tu boca
la ensenada

Mar de la marea
vela y savia de la sed del árbol te respiro.

Mi lengua en tus cuatro sienes
Mis sienes en la almohada

Ola pie mantra esperma
Suena una llaga
dentro de otra llaga estanca

El sueño dice
de la morada maña
en tus brazos de hombre que me abarca.

La forma de tu mano

El caballero sin sus armas

La voz del día

El limonero que brota el viento
en dos palabras

La fuente del desorden
la comparsa

Atajo y sierpe
en el amparo de tu lengua

Estancia





* Roland Barthes

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

A rua tempo

Na Voluntários passo
como eles
voluntário

há quanto tempo não me ligo
três nove setenta
quatro três sete cinco

mais que marginal
imaginário
ser a terceira margem do rio

**

Ao quererem-se nos Inválidos
invalidam-se e somem

e os sonhos bons
quem dera os fosse
são segundos

os primeiros
neles e no tempo
se acanham

e perduram
e perduram
e perduram

**

Os muros da escola atentos ao cego que voa
Nuvem bailarina no mar de eutanásia dos tempos

**

A Passagem aberta
doce
de portais de amêndoa

em raios da hora nova
é nos novos arranhões

o sono solda
tempos breves

e outubro passa
como música
no ônibus

poemas fruto das ruas Voluntários da Pátria, Inválidos e Passagem do Rio de Janeiro

domingo, 9 de agosto de 2009

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Um de oito

Álcool de ogiva salpicando cica
em todos os olhos
e amanhece paixão

Mesmo sonho de bana
decascando o cru da carne química

aurora verde do último degrau
nos pormenores do paredão de pedra

espelho verde aquarela

e a terra volta no barrigar pra cima

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Pouco Barulho

Assaltei-a.

Pé ante pé avancei pelo

silêncio das assoalhadas,


Até chegar a um quarto, onde

julguei ouvir dormir alguém.


Mantive o sangue frio.

Pé ante pé encaminhei-me para a saída

Fechei a porta da casa- sem fazer muito barulho,

Saí da minha vida.


Não caí na tentação de da mesma

comigo trazer coisa alguma.

Pois, que coisa me serviria?

Bruno Sousa Villar

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Desde manhã cedo que me enervaste o  suficiente para não me apetecer comer.

Por não ter fome continuo enervado, por isso, vai comendo tu.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Compasso em espera

"estar aí, no aberto vulnerável à ruína de todas as paisagens interiores,
é estar na margem permanente do medo"...
in biografia de al berto . golgona anghel

Para que cedo viesses,
recuperei a penugem do
caminho gasto em folhas castanho-velho.
Era tempo de cerejas e pássaros:
eu florescia finalmente na quimera do verde vivo.
Não era uma magnólia,
nem a busca do doce
e suas antíteses que me moviam,
era a evidente verdade:
sem ti o meu corpo era um barco condenado ao seu naufrágio.

Foi por isso que passaram estes milénios
onde Sherazade se reinventou:
passou de histórias a novelos
e tricotou um longo cachecol
para agasalhar o medo.
Em nada temeria o Inverno,
não fossem as rugas abertas nos dedos que oscilavam
a cor dos pigmentos do sangue.
Fizera-me estátua de espera,
sentara-me.
Entre os deuses,
continuava a preferir-me mulher.
Tu, homem-árvore,
cresceras-me por dentro,
semando raízes.
É inalcançável a célula através da qual te multiplicas.
Compro a viagem,
tenho um passaporte de cá para lá,
posso dizer-te sem metáforas:
conheço os lados geométricos do mundo,
mas és um anti-hemisfério,
ocupas a galáxia, corrompes-lhe o movimento,
tens uma hora certa, num dia longo.
No calendário onde te risco,
insistes em aparecer:
és a folha que não se rasga...
Homem ou árvore, a minha metáfora é a minha sede e cabe num copo.
Nunca te menti,
sou de excessos,
Bebo café, mastigo sal,
sem sabor sinto-me nua,
mas aprendi o pragamatismo,
coloco pontos nos iiiisss,
pontas nos pés e danço, danço, danço...
sou uma bailarina a inventar sonetos,
a compor sonatas, a perder-se no sono.
És uma noite que ficou por dormir.
Tenho coisas nos bolsos que diminuem,
que se encolhem,
pesam menos do que eu.
A minha casa é um lugar que não sei dizer.

Este é o relato da viagem onde fui marinheiro e gato.
Freud retalhou a psicanálise e colou-se ao meu pescoço.
Arranho o livro,
parece diferente e dilacerado,
mas as linhas são as mesmas e são muitas.
Com elas meço o destino,
coso os pés às meias,
costuro a pele por cima do vestido.
Transcrevo-te do livro, nomeio-te:
PEREGRINO DAS LÍQUIDAS ESTRELAS
(o peregrino tem a consistência do seus hábitos).

Levas-me de novo aquela casa?
O que fizeste à nossa?
Quero saber do teu avô e dos corpos que ele emoldurou em livros.
(e tu respondes-me num poema antigo: "parti porque a casa estava vazia")
Ou então:
queimemos a casa,
tu serás pai de um noticiário qualquer.
Repetes a mulher.
Na verdade, eu vi sempre a casa do lado de fora da janela.

Ou então:
não me abandones,
a noite é escura
e eu gosto de te rir.
Colemos os mosaicos dispersos,
quero ser vitral ou clarabóia,
um lugar de luz.

No fundo ainda te inspiro,
quando te soltas de mim
transformas-te sempre em tentativa de poema.
Eu era-me para ti.
Descansa, não voltarei a escrever-te alto.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Lamento aos que não conheçam que não conheçam RICARDO PASSOS

Ricardo Passos é artista plástico.
Artista. E de plástico apenas tem duas coisas: a composição química que lhe permitirá perdurar muitos e muitos anos e a elasticidade interminável da sua original visão do mundo.

Mas um Artista não pode ser apenas artista. Passos tem um talento descarado. Que dói. Observar a obra dele é sermos invisuais, porque é ele quem nos conduz e dele são os nossos olhos. Não, não é exagero. Exagero é o esticão mental e emotivo que ele nos obriga a dar para apreender donde vem tanto cosmos embutido no pêlo de cada pincel.
Não se faz, Ricardo!

E não se faz porque é sempre aquele quadro que queríamos ter pintado e nunca conseguimos. Não se faz porque só daquela porosidade saem tais qualidades sufocantes.
Cada quadro, de cada série de quadros é uma tela musicada, escrita, esculpida, uma orgia donde nenhuma das artes se esconde.

Nem só de cósmico se frui, há algo muito terreno, muito uterino também, uma quietude quente que nos abraça a boca.

"Pintei imaginando, porque nunca poderei sentir" - disse algures.

Ok, eu calo-me. Realmente não tenho palavras para descrever, aqui fica o próprio pelo próprio...





ainda...



e mais...



ecos em http://www.artmajeur.com/ricardopassus/

fica a homenagem aqui. espero que com raízes.

terça-feira, 14 de julho de 2009

"Amanhecer ou Pôr-do-sol do Burqua?"


poema-dental

O poema factor 50 espreguiça
oh! areia tumulto que espraias.
Houvesse cedilha e dava piça
bronzear dunas sob minissaias.

Cavalo de tróia adentrando Helena
bandeira verde na alma da pequena
estendo toalha acendo fornalha.
Que bem trabalha a tua tralha morena.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Il mio volo radente


Sem tir

Sem tir
eu não era camionista.
De emprego em emprego a sair,
nem carpinteiro nem pianista,
nem sinaleiro nem malabarista,
nem rasteiro nem comedor de alpista...
Não seria feliz o porvir
sem o amor à segunda, talvez terceira vista
que me estimulou a insistir
me derramou no alpatrão da autopista
e me fez prosseguir.
E hoje, quando o trailer dista,
são saudades que estou sem tir.
Acredito que não exista
outro amor assim no mundo real revista
da socialaite de amor-tecedores no ir e no vir
se acaba todo mundo por se trair.
Por onde a estrada seguir
tornando-se no horizonte singela risca
nunca alguém me verá sem tir.
Desistir?
Não sou tipo que desista.
Polícia algum me pode proibir
de guiar, guiar enquanto nas mãos tiver faísca.
Sonho que conduzo quando durmo a conduzir
pesadela-me acordado o que sentiria sem tir
: oh! excomungado camionista.
Assobiar a minissaia daquela francisca,
projectar artisticamente pela janela a prisca,
atropelar a vaca, o país, a sardanisca,
no altar do terço, miss mamalhuda e futebolista,
com paragem para arroz de feijão e patanisca,
sinceramente camião espantado de existir
sobre rodas enquanto a morte não belisca.

escancaro

Aprendi tudo desde a tua
morte. Passei

de pedra a madeira
e de madeira
a vidro. Frágil e superlativo como
o corpo que sou a viver dentro
de uma rodilha de suspiro.

O cancro não se come. Ainda não
há garfo e faca para o bicho. Ainda tentei
sentir as metástases no céu
da boca. Procuro entre mim
o aço,
encontro-lhe o superlativo no amor
à perda.

Odiar-me-ás quando te confessar
que guardo o teu cancro
na têmpora esquerda. Na direita,
a arma que o matará quando
ele acordar outra vez. Rede

entre o cancro e a sua morte,
o meu escandaloso e
tenebroso
cérebro.

Perdi tudo desde a tua, desde a tua,
a tua, sim, a tua
morte. Ouço-me em dificílimos decibéis
de dor guinchados em palpitações
anónimas (não são

nada anónimas pois estão) com o teu
nome esventrado.

Se as minhas pulsações és tu, também
eu morri de cancro
há tempos. Adeus às coisas aí, esta
é,
indubitavelmente, a obra-prima
do brilho que a paixão tem
no escuro.

Brilha que interrompe.
******

pedro s. martins

Leituras para a semana

(Últimos poemas, Nuno Rocha Morais, Quasi)

já disponível nas melhores livrarias.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

O ESCUTADOR - HORMONAGEM A FRED EINAUDI

I
"O suor crepita dos poros
enquanto a tua língua me
(en)canta,
perco-te entre o futuro
e o passado de um sismo
para regressar ao sorriso
sempre presente."
Alto lá e pára a pulga da brincadeira!
Um escutador não é necessariamente um amigo, mas um reflector a quem nos conseguimos expor.
Se estás com a purga atrás da orelha o melhor será reflectires sobre o factor ego na entrega do alcoolismo.
Sim, sim, já sei que um autoclismo funciona como uma torneira, mas digo que dessa água não beberei.

Na procura de um escutador procura os dois sentidos, porque obcecado pelo génio, o agir nas peles inferiores e humildes da vida é perturbador para ti.
A palavra substitui o corpo, dizes-me.
Pois.
Mas não estou numa fase de hóstia, nem hostil, essas hostes de hastes estuam apenas no teu estuário de descargas.

II
Trazes da infame infância dióspiros? Escuta, dor...como antes não suportas as ombreiras da frustração.
Óbvio? óbvio mas não óbito. O hábito que teces é que essa incapaz cidade que dissecas é uma manif dum rei interior.
Aparentemente é lógico. Julgas tu, nesse hálito etéreo eternamente etário, ó otário.
E os dois sentidos? O estéreo?
O teu desejo é a lei do teu mundo, do teu mundo da infância.

Ai ai que a frustração é uma ameaça. Mama algo que isso passa, diz o reflexo amigo autoclismo.
Ameaça, sim. Ao estatuto de Sua Excelência, "de quem todo o ser é desafiado pela calamitosa interrupção".

Stop - Desentope - Desentoa – Desampara-me o balcão,

não sou andragogo,
nem bom poeta,
jamais um mais-que-tudo,
nunca premência
ou pré demência.

Sou um avo, e voo.

III
"(de)leite de estrume. Avanças
o músculo. Torpor e intuição
que dá eco nas igrejas
drenadas pelo trono.
Vens. Tomas e retomas
o fim de tempo do suor
colado ao palato. Assomas
ainda o tutano e os ossos
com pós e cinzas
e asas que tu apagas"

Afinal, não querias ter de parar. Claro, Master cardo absolutista.
E atiras-te em frente, imparável. E essa pressão apressada? Aguentas as águas bentas bolorentas? Ou o speed é do café? Ah, no café.

O escutador valoriza a objectividade e desprendimento, confiando no esgoto honesto e directo.
Confuso? É difícil seres tu a reconhecer a auto-ilusão ó espelho teu, espelho teu.
Um expurgador é enrugado, falacioso e mentecapto. Eu disse escutador.
O copo apadrinha-se, amarinha-se, abatina-se, aparenta aparelhar num acarinhamento seco.

Estás refém. Síndrome de Estocolmo. O Herberto Barbas explica-te. Veias que expulsam a pulsão do esporão de espelta destilado. O pão, a mãe, a rosa.
Uma guarida-querida. Ferida-Calo.

"Silêncios quentes, quietude conspirativa do beijo
e sempre a própria aorta cúmplice como eco.

Cápsulas insonorizadas, secretas águas do toque
e nunca a exterior morte como congregação.

silencia-se a cápsula no limbo da respiração
da pele

silencia-se a cápsula no limbo da respiração
na pele

silencia-se a cápsula no limbo da respiração
na pele."

Sê Narciso e Sereia.
Estéreo?"

IV
"Fascinei
e
faxinei metade do mundo
metade de mim
metade de ti
encontrei um espaço, lacónico, só teu, como uma anátema
ai
um fio de impermeabilidade
que dói ao cair em ti

fascinei-me
e
faxino-me
perante a imagem
que inconsciente intuí
de ti

tenho saudades de ti-mim
dum mundo sentido

apenas planamos em universos
nossos.
anda-me-te."

Pá, o Ego que é imparável fixa a íris e investe a vida só pelo sim ou sopas duma paragem rápida ou se tem de aguardar pelo pão na fila.
Se paras separas-te de ti e ficas preocupado e depressivo. Se aguardas ficas ansioso casado com o pânico, de penico na mão trémula, e se o papão diz a deus adeus moves-te aliviado e alegre.

O leite azeda e o útero morre, as asas voam-se-te e surge o expurgador que não é escutador da tua surdez de realeza, pelo cano abaixo...
E ruges um piar.

V
"As putas das algas reuniram novamente
para apetrechar boatos sobre as tuas pautas
sujas de café. Pediram perdão, queriam
ser diferentes,
brutalmente indolores.

Como as flores de ferro forjado.

Afinal amassam pão com lâminas
e sorriem húmidas vivas e lúcidas.
Contentam-se com nunca se saberem contentar.
Mudam mas mudas, ou pouco faladoras.

Repensam e limpam a tua orquestração
com taças de areia e lava,
e das madeiras
nascem pontapés dos sorrisos das nuvens..."

Não tens escolha, Ego-clismo: não consegues segurar uma característica e defecar outras que não amas. Não percebes? A Adília Bombas não te explica. Nem o esquentador do lado de lá da tua almofada fadada.
Não tens escolha, Ego-clismo: não consegues segurar uma característica e defecar outras que não amas. Agarrares o que achas de bom é amamentares o Ego. Ou ejectas tudo ou ele volta.

Mas nem tudo é mau.
Tens um escutador.
Um escutador que te ecoa:

"e depois?
Não me há trevo a decifrar
a narina de van gogh girassoldada
chovem línguas nos mamilos de modigliani
porno grafismo ou corn felattios ?
cruxifi(quem?)-me num favo de mel gibson
e depois chorem ao som de woody aliens
dos piropos pirosos de poros pueris, freuda-se

a lucidez hieroglífica as têmporas das tâmaras
e os caroços esteticistas comem-me a impressora
porque lhes disse que chocos com tinta lá caíam"

a poesia gregoria-se também ou temos todos que usar gravatas nos pénis?

VI
Que o amplexo é complexo já se sabe.
Sabe-te a pouco e apouca-te.

Quanto ao Fred Einaudi (que tem um escutador) não me parece que goste de Harry Tiebout, Freuda-se!
Nem tem pimba dos balcãs, soutiens debaixo das mesas, corn flakes com whisky, lápides na sala.
Não lê sobre autoclismos, nem me dá o telefone da Adília Lopes...

Cantos a Medusa III

Porqué te apagas animal intermitente?
Porqué apagas la luz que te traían?

Es este temporal
entre tus raras caras encendidas,
este pulsar que no cesa
ni se cansa?

Es este evento de clausura
este migrar en el oceano feroz
en la penumbra?

Es ese grito
atado a tus fauces
encerrado en la caverna de agua
el que te arrastara?

Es el mar con sus variables
es tu imágen no nacida?

Es la madreselva
el ave blanca
la alta rama
que te llama?

O es esta noche
este infinito que no late
de piedras contraidas
este terror
este destino?

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Due Occhi Rossi

I

Due occhi rossi,
disteso, schiacciato
sul lenzuolo d'asfalto;
segnato il decesso:
negro,
forse del Transvaal,
un nodo, un fagotto,
e via, come pacco di spesa.
Solo un grappolo fermo,
poche mani, nere d'inchiostro
a spostare quell'aria.
Muovemmo le spalle
non i pensieri
infiammando di pugni le tasche.

II

Isole verdi
isole a celle
isole d'azzurro e delfini,
ombre increspate da salti di mare;
uno scendere piano le scale
verso i confini del fondo:
ricordi di Tanga
di Rudolph, gonfio di morte,
lungo, in quella piroga,
le scarpe a tracolla,
il fegato in mano;
tirava sul prezzo un vecchio stregone.

III

Un tramonto continuò col fuoco sul ferro,
si prese una voce:
nessuno lo vide,
calata sul collo la maschera vinta,
gettare nel gorgo
la croce del sud
e polmoni al petrolio
e guardie di notte
e coste
e rotte
e solchi sul viso pieni di sale
e il coraggio, per prati del fondo.
L'ultimo grido è un muovere d'alghe.

IV

Sopra un monte di sale
rema una barca piena d'occhi:
rossi d'asfalto, di Rudolph e di altri tra l'onde,
non un porto l'accoglie col nylon.
Non esistono banchine per sbarcare la morte.
Ho liberato da rami e da foglie
soffiando tra il bosco, dopo ogni tempesta,
una fossa, piena di vermi,
di bocche i Costa d'Avorio,
di teste nere tese ad affumicare,
di secchiate di nafta,
di mani che spingono il giorno,
di becchini con vanghe dal tocco di Mida,
di gambe di donna bagnate di mare.

Ho consumato tre legni spostando gocce nell'acqua,
la prora violenta i miei mari tra tonfi,
aliti di vento non gonfiano una vela,
...e uno sta sempre seduto a guardare.

versículo perdido

El sol baja a desalmarse
y en el último floreo de la tarde
me pronuncia un escándalo en el pelo

Con manos de calandria separa
lo que daña
del silencio
y te ovilla en la voz del viento


no hay amparo

Frammento

Vedo smerciare
miele di vipera
per le strade.
Agito braccia di carta
che il vento disperde,
bocche cariate deridono
i miei abiti di clown,
in questo proscenio
di morti.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Sabadomingo

Dicen, los que dicen que saben
que el pez por la boca muere.
Prometeo me mira desde otro lado del vidrio y basta.
Yo soy el pez en el aire.
 
Ayer y hoy se agarran de una silaba
y alguno me invita a ver lo que sabe hacer la muerte:
 
Yo paso de largo
Se me antoja alguna otra variación de la memoria
entonces la recuerdo atenta y con vestido.
 
Pero la muerte me arrima más distancia.
 
Ya temprano hablábamos de huevos,
gallinas cerealeras, gatos, hierros, comadrejas.
¿No lo sabíamos?
Celebrábamos el entierro de la víspera
 
Por la cocina me muevo sin delantal, sabiduría ni accesorios,
preparo un almuerzo que no procuro terminar.
Vuelo a la hoja
porque Prometeo se posa en la prosa
del último verso
y me hace caer unas preguntas:
¿Qué?
¿Se llamará Soren el hijo bastardo de Kierkegaard?
¿Todo tanto se amontona?
 
Ahora el niño reclama un almuerzo
exento de lápiz y papel
pero pretende que aun la música.
Saca de su bolsillo unas monedas
como un mago
me tira un beso
entonces todo el mar
 
Y este mediodía de cortinas
se merece el gorrión que lo desvela
para que yo, el pez en el aire,
pueda sentarme frente al anzuelo de la muerte que.

Dulce, abandonei-me

(Júlio Pomar)

Aqui não vão encontrar
ascensões, apenas o arcaísmo
armadilhado que não cessa
nem estanca
o vazamento da dor.

A tremura denuncia a quem
me vê
tudo o que conteúdo do casaco
aluído no meu corpo. Tudo
na Foz cheira
a esperança, tudo na Foz
é vapor
rico de quem não ficou
na plebe à espera
do derreter da vida.

E toda esta esperança-espectáculo
tem bastidores. Cai(r)am tristezas, caem
tristezas,
(bate vagabundo no sofrimento
de dormires
a estala o banco de jardim;
barba e cabelo sem rédea,
e a tez
cremada pela idade de se ser vivo
são chave para o abismo.)

A fome é tão corrosiva que a consigo
cheirar
daqui. Exilado pela árvore genealógica
da sociedade, és galho
que vai partir (vais
partir.
Vais.
Quebrarás sem restolho
na Foz.)

[Dulcinha-sobrinha, vire a cara para o outro lado. Veja a montra. Está
ali um pedinte, um pedante, um daqueles, está a ver? Dulcinha-filha,
olhe ali um jovem de cabelo solto e de riso
que importa à neve. Dulcinha-afilhada
ignore aquela morte
ali estatelada
no banquinho de jardim.]

Dulce-mulher, cai a maçã,
parte o ramo, arde o cheiro a serpente, fica
o aroma a morangos espremidos na hora. Fosse
aquele o último homem e a colheita estava
estragada, aluía-vos
o estatuto.

Levanto-me do banco, ando e sei que mal me coube
uma pessoa na minha
morte de ontem.
******

pedro s. martins

sábado, 4 de julho de 2009

Cárcere

Rasurava na parede nua da cela
os dias - erros- por defeito à altura
da minha morte.

Reflecti -
achei o acto de tremenda tolice.

Passei a escrever os poemas,
com uma gilette ferrugenta
e romba, na prisão do corpo

- passos contados
no corredor da morte.

Bruno Sousa Villar

tropicantropus erectus

" Minga Mingus Pithecantrus"

sos son de suburbio empedernido
en sistema binario de colores

hijo de olvido
alcohol y noche
cumbia
andante ma non tropo
y reguetón

y ella se ciñe
a su pollera colorada


de gorra brillante
moviestar
de birra y pedra
sin jangada
el Paraná de fondo
y que te importa la espesura

parlante
cromado
gran volumen
mangas largas
sacuden tu noche
los coros de bailanta




reloj de marca
quien lo sabe
oro o brillo
y quién da mas
si ella se ciñe
a su pollera colorada
.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

A quinta de mim

..........Rompendo

recortes de jornal

......acordes de si

ciclos curtos

senhas de acesso para si

.............trancando

.................redemoinhos do outro

.................abusos marcantes

.....rastros de limbo

.........e esmiuçá-lo até ficar

.........................................raso como se

não coubessem coisas entre nós

.....e sermos estribos de animais de porte


.............chorume vendável

.............e qualquer coisa

....que seja atrito e incandescência

como os vagalumes que sempre fomos

e espremermos nossa luz contra um carro

compra mãos de deboche para acenar para ti

................são coisas lindas de si

.................................linhas leves

................................que só se alegam


[Vim pedir licença para entrar na casa pela primeira vez. Obrigado a todos pela presença e convite.]

Un punto di vista diverso - A Different Point of View


Todo o silêncio é sulfúrico quando nasce morto o diapasão da normalidade


de bisturi como batuta enquanto esculpia poemas na carne fria
lembrou-se dos estupros dos selváticos monstros encavalitados na sua mãe

entre os silêncios sulfúricos que migravam para as gavetas subliminares
e os uivos com palmadas no dorso do depósito de esperma maternal
seus sonhos faziam greve

um olho suicidário escolhia uma lágrima e escarrava flores de ferro forjado

acostumara-se a desenhar frases bíblicas no torso em frente ao espelho
a agrafar as pálpebras ao som do crepitar dos membros que ia partindo
para pandorar melhor as imagens e assim construir os monocórdicos desejos

um dia escolheu uma grávida e com ela ainda viva mastigou o feto
recordou a fivela do cinto escondida por trás dos joelhos como um diapasão cru
e o sémen selvático de um macho a orquestrar nas cordas vocais

foi o inverno em que as gotas floresceram e o vermelho férreo das menstruações
lhe gatilhou os traumas da putrefacção do paladar cósmico

quando apenas o aroma graálico dos lábios da cidade feminina em decomposição
lhe oferendou uma já muito tardia mas esperada erecção

quando dentro do frigorífico o bolor do funil que lhe servia de expiação o exilou
na apneia castrada das suas projecções patologicamente pintadas nos cadáveres
que congelados simbolizavam a crença de um futuro mais que per si feito

hoje o bisturi não se cansa e fermenta o universo que lhe empareda as sílabas
as sombras unidas pelos joelhos risos sonâmbulos e vedores que caem dos tectos
ecos palpáveis feericamente rebeldes que gritam larvas autoritárias na sua leitura

o punho frígido fogueira-se e mimetiza a catapulta da respiração ansiolítica
ele quer aprimorar a obra mas o devir ainda debita sangue e sabor metálico
como uma anestésica semente desinteressada no caos poético dos mundos
uma sesta ufana -merecida- em posição fetal numa semiendeusada fasquia libertária
orgias oníricas com freiras quentes e pecados elasticamente prazenteiros
contelações de conchas laminadas na purga incessante das percepções pulsantes
estupefactrizes cúmplices no muro de gás cinestésico dos ódios ao amor
os ósculos libertários nas salivas secas do imobilismo cândido e conivente

interessam lá os palácios erigidos que sugam os mamilos das civilizações
interessam lá os demónios que não lhe desnudam a genialidade canforada
ou os felinos amantes que adormecem na erosão suada da plenitude humana
ou as santidades amolgadas pelos avanços tecnológicos das esquinas citadinas

com o clitóris peçonhentamente ébrio entre os dedos em direcção ao inferno da boca
emancipa-se o anacronismo do físico fugaz nas vísceras do arco íris dos anciãos
e surge a vagem cremada pelas rugas desfolhadas da memória dos eclipses

em cada corpo desmembrado correm na espiral dos poros cápsulas de poeira pura

as dúvidas como dívidas incham o mirrar das veias oportunisticamente compreensivas
e crente e extasiado contrata numa flecha os demónios que havia suado

dos silêncios sulfúricos enevoa a loucura pulsante de um abraço o esperma seco

"...e le mie invidiose vicine di casa diventeranno cibo per i gatti."-"...and my envious persons neighbors will become food for the cats."-"...e meus